segunda-feira, 29 de julho de 2013

Teflonso.


Outro dia li este apelido do Fernando Alonso. Teflonso. Bem apropriado para aquele que teve o maior lucro dos dois maiores escândalos da era moderna da F-1 sem que estes escândalos grudassem nele, como deveria. O homem é feito de Teflon, da melhor qualidade. E só poderia, afinal o cabra é patrocinado por gigantes da economia.

O cara fez o ambiente da McLaren o pior possível pois não dava conta do Hamilton só com o talento. E aí surgiu a denúncia da espionagem contra a Ferrari. Quem se beneficiava? Os pilotos da McLaren (Alonso e Hamilton). Foi atingido? Não.

Na Renault impôs um carro pior ao Nelsinho, sempre desatualizado, e foi por isso que a Renault deve ter tido que pagar uma fortuna aos Piquets, pois no contrato de desempenho comparativo com Alonso, as condições (carros) teriam que ser as mesmas e nunca foram. Não satisfeito, para que Alonso vencesse uma corrida (sua única vitória neste ano) Nelsinho foi obrigado (É. Existe bulying na Fórmula-1) a bater no muro em Cingapura logo após Alonso ter parado para um pit-stop espantosamente prematuro. Mais uma vez um escândalo onde ele lucrava, mais uma vez saiu incólume.

No entanto, não são estes os motivos deste post mas os jogos mentais do Alonso. Na McLaren, Alonso cobrava ser primeiro piloto, na Renault contou com seu comparsa e padrinho na vida fora da F-1, Briatore, para impor a Nelsinho um carro sempre defasado. Na Ferrari bastou um pedido no rádio e um “Fernando is faster than you” para colocar ordem na casa. Mas estes joguinhos não tem surtido o efeito que ele desejava, pois nem a Renault, nem a Ferrari foram dominantes na era Alonso e por isso um jejum de títulos.

Agora vem um novo movimento, uma possibilidade de mudança para a Red Bull já no ano que vem. Ora, para mim parece simples. Fernando sentiu a necessidade de aproveitar a Silly Season para fazer um dos seus jogos mentais. Mandou seu empresário conversar com a RBR e jogou a notícia para um jornal alemão divulgar. Assim mexe com a cabeça de seus dois adversários diretos. Essa possibilidade joga açúcar no tanque de gasolina da negociação Kimi e Red Bull e mexe com a cabeça de Vettel que pode raciocinar esta negociação como uma incerteza da Red Bull em relação ao seu talento de piloto. Não acredito que Vettel seja imaturo a este ponto, apesar do comportamento infantil do alemão quando Kimi não o deixou passar na Hungria. Vettel se comportou como criança mimada reclamando de uma manobra normal do finlandês. Quanto ao Kimi, novamente Alonso tenta melar a relação de Kimi com uma equipe, talvez desejando que este permaneça na Lotus para ter um rival menos perigoso no ano seguinte pois a Lotus é uma equipe pequena e Kimi, mesmo com uma equipe pequena está na frente dele no campeonato.

Como Kimi não se sujeita a jogos mentais de ninguém (vide sua reação a infantilidade de Vettel na Hungria) o que Fernando pode querer é apenas melar o contacto da RBR com Kimi forçando-o na direção da Lotus e forçar a Ferrari (que tem dois anos de contrato assinado e não vai liberar Alonso) a investir na melhora do carro ainda este ano.


Por isso acho este movimento do empresário do Alonso triste. Triste Fernando Alonso, Triste Alonso. Triste Teflonso.

Muito bem casados.


Tenho lido algumas críticas sobre a contratação pela Sharapova de Jimmy Connors para ser seu técnico. Não entendo a razão das críticas. Maria deve ter visto o sucesso de Murray em Wimbledon e creditou boa parte deste sucesso a mudança de mentalidade e jogo imposto pelo Lendl. Ivan Lendl foi um dos jogadores mais intimidadores em quadra, mostrou a Murray que uma bolada no adversário quando este sobe a rede pode ser vista como uma jogada feia mas tem sua eficiência, no ponto, e no comportamento do adversário a seguir. Esta “agressão”, permitida nas regras do jogo, mexe com a cabeça dos adversários no sentido de buscar uma resposta adequada de agressão ou não-agressão, porém o tempo da dúvida é um tempo em que a concentração do “agredido” perde-se na dúvida da resposta. Murray, neste ano em Wimbledon “mirou” em adversários, por vezes atingindo-os como a Tsonga, por vezes raspando no corpo do adversário por conta de reflexos de fuga, como aconteceu com Federer, que escapou de boladas por pouco.

Na WTA tem uma tenista que intimida a todas adversárias e se está no dia (naqueles dias) intimida juízes de cadeira e de linha, ninguém escapa a fúria da Serena Williams. E ninguém tem dúvida de que Serena é a pedra no sapato da Maria Sharapova.

Ora, Maria vendo o resultado obtido por Murray por ter contratado o intimidador Lendl como técnico, por que não ela? Ela já teve um período anterior com Connors, só não levou adiante por ser pão-dura e não querer pagar o que Connors pediu na época. Se Lendl era intimidador, Connors sempre foi o “Mestre” da intimidação. Aquele que fazia o McEnroe ficar pianinho pianinho. Antes de ser um “aposentado” em atividade Connors massacrou Lendl que tentava intimidá-lo como aos outros. Connors, no entanto, sabia ser brutal enquanto o Lendl tentava ser hipocritamente “educado”. As duas finais do USOpen de 1982 e 1983 ensinaram ao Lendl que intimidação funcionava com uns, mas com outros, geralmente brutos de natureza, funcionava como uma espécie de “doping”. Este era o Connors, jogava muito melhor quando tentavam intimidá-lo.

Comparando os técnicos com as jogadoras em questão, Maria seria uma Lendl, intimidadora, mas com um limite imposto por educação. Serena é Jimmy Connors de saia, alternando jogadas técnicas com outras brutas, se não tem jogada melhor com a oponente na rede, ela vira alvo.

Então, quem melhor para ensinar a Sharapova a jogar contra a Serena do que o jogador que certamente serviu de inspiração a todos os brutos (no sentido da impiedade) do tênis?


Por este motivo, até prova em contrário, acho que a dupla Sharapova-Connors tem tudo para ser uma dupla muito bem casada.  

sábado, 13 de julho de 2013

Um Mergulho na Depressão.



Sexta-Feira, dezembro, meados dos anos 80.
Ao entrar no centro de convenções senti o corpo gelar, uma sensação desagradável tomou conta de mim de forma surpreendente. Estava ali para receber o diploma de médico.  Foi um evento social com certo impacto. Pela primeira vez, desde a implantação da ditadura militar, que uma turma de medicina se formaria em uma única solenidade. Estávamos naquele momento representando para a sociedade algo considerado perigoso pelos militares, uma classe com sentimento de classe. Meu Deus! Quanta hipocrisia. A sociedade não foi informada que neste grupo de formandos, muitos arrancaram dos quadros no hospital e faculdade de medicina os avisos de estágios e cursos de fora da faculdade para evitar concorrência. Que havia aqueles que entraram exclusivamente pela política e que jamais veriam um paciente na vida de, entre aspas, médicos. Também aqueles, exceções, a bem da verdade, cujos comportamentos aéticos deveriam ter provocado suas expulsões da faculdade.
Sentia-me mal por participar daquela hipocrisia, a turma formada unida, nada tinham de união a não ser a própria formatura. As diferenças chegaram ao ponto de termos dois oradores, impostos por dois grupos conflitantes.
O último conflito, a própria roupa que usávamos. Uma turma não abria mão da Beca, outra não abria mão do terno. Depois de uma manhã inteira de discussão, a maioria da turma decidiu que seria terno cinza com uso obrigatório do colete. Avisei antecipadamente que não usaria colete, afinal Salvador era uma cidade de clima acalorado e eu não iria me sentir desconfortável por causa de roupa alguma. Quando cheguei ao salão principal do centro de convenções reservado para nossa formatura, percebi que alguns colegas que não se manifestaram na reunião final também não estavam usando coletes. Esta era a turma dos independentes.
Meu pai, que estaria muito orgulhoso neste dia, havia morrido três anos antes vítima de um AVC. Minha mãe fez questão de estar acompanhada da minha tri-ex-namorada, forçando uma reaproximação que eu não desejava. Meu olhar de reprovação disse tudo por mim ao ponto de fazer minha mãe cochichar-me no ouvido: “Comporte-se com ela”.
Sorri ao receber meu diploma, meu sorriso social, aparentemente feliz, totalmente falso. Era muita hipocrisia para uma noite apenas. Com o diploma na mão pensava apenas que tudo daquele dia em diante seria minha responsabilidade, eu teria um preceptor na residência, treinando-me, pelo menos esta era a percepção de uma residência, mas no fundo eu sabia que os erros seriam os meus erros, de mais ninguém. Como eu lidaria com os erros? Se e quando acontecesse eu teria a habilidade de repará-los em tempo? Estaria realmente preparado para ter a responsabilidade de uma vida sob as minhas mãos?
A noite foi rápida, ao que me lembro. A festa no Clube Baiano de Tênis foi restrita a poucos convidados por aluno, afinal eram muitos os formandos. Mas como meu grupo de colegas com quem saia para farras era razoável, tive muita gente para dar atenção e evitar uma conversa que seria desagradável com Carla. Felizmente, para ela, Carla se comportou como a namorada silenciosa, ficando ao meu lado boa parte do tempo, mas sem falar nada. Os amigos que sabiam da minha condição de solteiro me olhavam interrogativamente e através da linguagem dos olhos tinham suas dúvidas esclarecidas.

Sábado.
Minha mãe reuniu a família e amigos para um almoço, Carla, novamente convidada. Quando a vi, disse de imediato a minha mãe que estava do meu lado:
- Se a senhora gosta tanto dela, porque não casa a senhora com ela?
Levantei-me e fui de encontro a Carla que beijou-me na boca. Segurei a mão de Carla e a levei para meu quarto. Tranquei a porta.
- Carla, nós terminamos. – disse. No mesmo tom em que diria a um paciente que ele está na fase terminal de um câncer. Com suavidade e certa melancolia.
- Mas nós já terminamos e voltamos algumas vezes – tentou argumentar ela.
- E você quer viver um relacionamento vai e vem? Este tipo de relacionamento é como um iô-iô mal manejado, a cada volta tem menos cordão a percorrer e honestamente, da forma como vejo, na nossa relação não tem mais corda pro iô-iô andar. Já parou de girar.
- Você não sente mais nada por mim? – Carla perguntou já em tom choroso.
- Sinto muito carinho, sinto o amor que nunca se perde por quem queremos bem, mas não vejo futuro para nós dois como casal.
- Por que não?
- Porque você já reclamava muito das minhas atividades profissionais como plantões e também do tempo que eu passava com amigos ou pegando onda. E agora vai ter muito menos tempo e sinceramente não quero mais passar meu tempo de sexo e carinho ouvindo incessantes reclamações.
- Mas eu posso mudar.
- Já ouvi isso antes e advinha, você não mudou. Você não vai mudar. Você sabe disso, eu também, vamos recomeçar uma relação baseado nesta mentira?
Ela chorou, mas por pouco tempo. Ela já esperava este desfecho afinal eu sou completamente previsível para quem me conhece, tenho um código de ética do qual não desvio e baseado neste código sequer perco tempo com fingimentos, logo, quem me conhece sabe o que esperar de mim, que eu seja eu mesmo.

Domingo.
Minha mãe queria sair para almoçar comigo, achei muito estranho, afinal o favorito dela era meu irmão, aquele que a obedecia sempre e fazia todas as suas vontades. Lembrei o quanto ela me azucrinou para não fazer medicina e sim administração. Disse a ela que iria surfar. Peguei minha prancha e fui para uma praia que não frequentava porque não queria encontrar ninguém, conversar ou ser social. Queria o silêncio, a introspecção, saber o que esperar de mim diante do desafio que estava a minha frente. Não era mais um estudante de medicina, era um médico. O que acompanharia esta mudança? Dúvidas e mais dúvidas.
Cheguei à praia, finquei a prancha na areia e lá fiquei, horas, olhando as ondas e pensando em nada.
Senti alguém próximo, Janos, um dos meus colegas formandos, que também surfava. Janos fincou a prancha dele próximo a minha e sentou-se ao meu lado.
- Descansando? – perguntou-me Janos
- Não entrei ainda.
- Chegou agora?
- Tem um tempo.
- Estranhei te ver aqui. Sei que você não gosta deste ponto pra surfar.
Tive vontade de responder que estava ali por achar que ficaria sozinho, mas a educação não me permitiu. O que me impede de ser totalmente transparente é a maldita educação. Não consigo lembrar-me de quantas vezes desejei mandar a educação pros quintos dos infernos e não fiz. Fiquei calado, como naquele momento.
- Você também se sentiu deprimido? – perguntou-me.
- Vim aqui para isso, para mergulhar na depressão, deixá-la consumir-me por inteiro, por horas. E mandá-la embora. Quando voltar para casa quero estar limpo, de depressão ou euforia para tomar as decisões que preciso sem nenhuma influência emocional.
- Posso ficar aqui e mergulhar na depressão também?
Achei a pergunta estranha. A praia é pública porque ele precisaria de minha permissão?
- Fique a vontade.
Por mais uma hora continuei ali, sentado e mergulhado na depressão. Enfim voltei à tona, respirei o ar, livre de emoções. Levantei-me, apertei a mão de Janos sem falar uma palavra. Peguei a minha prancha, caminhei até o carro, amarrei a prancha no rack e ao ligar o carro percebi que tinha que abraçar todas as responsabilidades que viriam adiante e pronto, já tinha tomado a minha primeira decisão como médico, iria morar sozinho. 
Pensei em minha mãe sabendo que ela iria querer saber a razão desta minha decisão. A resposta já estava pronta:
Existem caminhos a serem trilhados na solidão.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O Dilema de Kimi.



Nós brasileiros sabemos muito bem o que é ter um “ídolo” (entre aspas porque nenhum dos citados neste parágrafo é ídolo para mim) que ao abrir a boca já se espera que venha alguma bobagem. O maior ídolo dos brasileiros, Pelé, ao abrir a boca já se tem a garantia de que algo no mínimo infeliz vai ser dita. Niki Lauda agora mostra que “ídolos” austríacos também podem se inscrever na categoria de: “Calados são gênios”.

Niki Lauda, um gênio das pistas, recentemente declarou que se Kimi Raikkonen recusar o convite da RedBull será um covarde. Para quem foi injustamente acusado de covardia ao abandonar uma corrida e perder um título mundial por conta disso, usar esta palavra, de forma injusta, para definir alguém é prova de que a vida não ensinou nada a ele quando esta, a vida, lhe bateu covardemente.

Ao contrário do Lauda, a quem reconheço a genialidade mas não o tenho entre meus ídolos, Kimi Raikkonen é um ídolo para mim. Como já disse aqui no blog e repito, ninguém é meu ídolo apenas pelo talento, tem que ter personalidade e um certo padrão ético. Por isso Gérson, Rivelino e Tostão são meus ídolos e Pelé não é; ou Kimi Raikkonen e Piquet são meus ídolos e Ayrton ou Schumacher não; ou Elena Dementieva, Maria Sharapova e Ana Ivanovic são minhas “ídolas”, Serena Willians não.

Lauda perdeu uma excelente oportunidade de ficar calado, outro tricampeão como Lauda, o Jackie Stewart declarou que se fosse Kimi não iria para a RedBull porque eles já tem afinidade e preferência por Vettel. Eu acrescentaria, que Kimi deveria pensar mais ainda porque ele já viu o que é ser piloto RedBull quando correu pelo mundial de Rally e também já viu o que é correr em uma equipe voltada para outra piloto. A Ferrari tinha clara preferência pelo Massa quando os dois correram juntos, muito certamente porque eles (os mandachuvas da Ferrari) não aceitavam o estilo Kimi de ser.

O que a RedBull quer de Kimi Raikkonen é o retorno midiático que a presença de Kimi oferece. Eles já viram pessoalmente no mundial de Rally e observam agora o sucesso midiático da Lotus em razão da presença de Kimi.

Entretanto, a RedBull não é a Lotus. Um dos aspectos positivos do retorno do Kimi à F-1 foi justamente a adequação da Lotus ao jeito Kimi de ser, a Lotus RESPEITOU o ser humano Kimi e teve um retorno espetacular em termos de desempenho esportivo e desempenho midiático. Por outro lado, a Lotus não é a RedBull e não pode oferecer a Kimi um carro realmente competitivo e com a possibilidade de desenvolvimento com o campeonato em andamento.

Infelizmente, em minha opinião, a McLaren não demonstrou interesse na contratação de Kimi. O campeonato do ano que vem é uma incógnita geral devido ao novo pacote técnico. A McLaren tem feito carroças sucessivas e por ser uma grande equipe com um grande orçamento, pela lei das probabilidades um carro veloz é capaz de sair de Woking para o ano que vem. Os mecânicos da McLaren já foram flagrados aplaudindo uma ultrapassagem feita por Kimi com a Lotus. Ele teria um ambiente melhor na McLaren do que na RedBull e estaria numa equipe com orçamento para ser campeã.
  
Se eu pudesse dizer alguma coisa a Kimi, diria apenas uma frase que cairia muito bem nele como serviu a Nelson Piquet em seus anos áureos. A frase seria: “Melhor do que ser o melhor, é ser o melhor e o mais feliz”.